segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Episódios Nangololo 1970, por João Maria Ribeiro Silva

 
 
Resumo da Pag. 300 - 306 .... sobre a história deste avião que ficou na pista de Nangololo com o trem de aterragem partido .... e que durante uns dias tinhamos... de sair do arame farpado para o guardar de noite ....

Pag.300 -

A GUERRA NA PICADA Deitado sobre uma maca de lona colocada em chão frio e húmido, aquele companheiro era a imagem real do pesadelo que me atormentava.
Via-o sofrido , angustiado com lágrimas de uma amargura infinita.
Sofria na carne e no intimo os horrores de uma guerra que tudo lhe desfez ........

A Força Aérea não voava de noite......
Quando conhecemos a decisão de evacuar os feridos de táxi aéreo vindo de Nampula, mais confuso fiquei.
Mueda ficava ali ao lado ...

O facto de o aquartelamento se encontrar completamente ás escuras, não podia facilitar a sua localização.
Alguém se lembrou com o recurso a tochas feitas com latas de cerveja vazias .... que estavam no lixo.
Colocamos gasóleo com óleo queimado e com a ajuda dos farois de uma viatura, iluminámos as bermas da pista para a balizar.

Uma horas mais tarde com o negrume da noite à distância de uma mão por cima das nossas cabeças, quando o ruido se ouviu sobre nós, como que ligadas em cadeia as tochas se iluminaram.
O piloto não conseguiu localizar-nos devido à densa neblina, alvitravam uns......
Será que regressou a Nampula?, inquiriam outros.

Uma hora mais tarde, com muitos de nós já descrentes chega-nos um temido zumbido.
De novo corremos para a pista e ela se iluminou.
Inesperadamente ouço um ruído abafado e constato que a aeronave guinou com a asa esquerda a roçar pelo chão até parar no arame farpado.

Quando vi um corpo meio desnudado com uma perna decepada, senti-me desorientado.
Por fim perguntei ao piloto: de onde vem ele?
De Muidumbe.
Ficámos então a saber que já vinha a caminho de Nangololo quando lhe transmitiram o pedido de Muidumbe para evacuar um ferido grave ......

A FORÇA AÉREA NÃO VOAVA DE NOITE MAS OS PILOTOS CIVIS SIM ...
ARRISCAVAM A VIDA.
Pensamento meu ......

  • Antonio Sa em que ano foi isto? este avião ficou lá para sempre? não é deste que o nosso alferes tirou o banco para descançar das caminhadas e a c.cav. 3561 tirou os rádios?
  • Duilio Caleca Será ???? Nangololo ????
  • Antonio Sa ? ao fundo não é a caserna do pessoal das "daimleres"?
     
  • Duilio Caleca Aguardemos para esclarecer.
  • Mas que os bancos fizeram muito jeito, lá isso fizeram.
     
  • Antonio Sa é fácil tenho fotos eu deitado em cima da asa que mandei para a família a dizer que estava a voar nas nuvens e vejo a matricula da aeronave.
     
  • João Maria Ribeiro Silva CAROS AMIGOS LEIAM O RESUMO DA HISTÓRIA DESTE AVIÃO EM NANGOLOLO -1970 - QUE DESCREVO POR BAIXO DO AVIÃO ....
     
  • Antonio Sa amigo João Maria por baixo não tem mais nada.
     
  • Duilio Caleca Eu passei alguns meses a iluminar a pista com latas de cerveja com gasóleo e um pavio acesso e só vi aviões civis, pela calada noite sem iluminação alguma, não fosse os mísseis fazer das suas.
  • Depois deu-se o 25.
  • Coincidências.
     
  • Armando Guterres Na Mataca também ficou uma noite, aterrou apesar de estar avisado que a pista estava encharcada.
  • No dia seguinte com a pista seca lá seguiu à sua vida.
  • Outra vez, com a informação dada no Chai de pista operacional na Mataca, ao sobrevoar a Mataca com um lindo sol e sem nuvens "uma maravilha" seguimos para Macomia porque as valas do aquartelamento estavam cheias da água da chuva...
     
  • Antonio Sa creio que não é o mesmo avião, numa foto que encontrei as janelas não são redondas. mas amanhã tiro duvidas com outras fotos.
     
  • Antonio Sa ó Duilio o padre fazia procissão na pista?
     
  • Antonio Sa Segundo contaram o piloto esteve lá e tomou umas cervejolas.
  • Quando levantou pensou que já ia no ar virou e deu com a asa na pista e lá ficou.
     
  • João Maria Ribeiro Silva Antonio Sa, o avião ao aterrar partiu o trem de aterragem, de noite, como relata o resumo que escrevi, tirado do livro a Guerra na Picada do meu camarada António Soares, em Nangololo no ano de 1970.
  • Vindo de Muidumbe com um ferido grave, para levar outro de Nangololo também com um ferido grave.
  • Conclusão tiveram de ficar a noite toda no acampamento, gemendo com dores (sem um perna cada um) à espera do Heli para os levar para Mueda ... misérias da guerra ...........

  • Antonio Sa João Maria, ok não existe ligação nenhuma são dois casos diferentes entre estes dois aviões.
  • Santos Silva Teve um furo ou kkkkk!!!
     
  • António Soares A diferença entre os dois aviões também é temporal: um acidente aconteceu em 1970 e o outro em 1972.
     
  • João Maria Ribeiro Silva e já agora Santos Silva se ler o resumo que escrevi sobre o acidente , perceberá o que aconteceu ... na pista encontravam-se pequenos montes de terra, para tapar os buracos, que iam aparecendo ..... por azar tivemos uma evacuação nesse dia de um ferido grave e aconteceu o desastre, por ser de noite cerrada ..... AZAR ....
     
  • Abel Lima Sobre o livro " A Guerra da Picada".

  • Finalmente ...
    Um livro que descreve com realismo, não só o dia a dia em Nangololo, mas também o estado de espírito dos militares que lá permaneciam meses a fio;

  • Um livro que relata episódios de guerra e que, em minha opinião, será muito bem compreendido e melhor apreciado por todos aqueles que por lá passaram durante e depois dos acontecimentos e fará refletir muitos outros, especialmente aqueles que, ainda hoje, afirmam que a guerra ou melhor a guerrilha estava ganha ou então que ela nunca existiu ou ainda que podíamos e devíamos dar continuidade àquele estado de coisas.
  •  
  • Arrisco-me mesmo a afirmar que até aqueles que estiveram em Nangololo, no início do conflito, também ficarão surpreendidos se lerem o livro.
  • Pena esta edição não ser documentada com as muitas fotos que o autor possui e já divulgou no Facebook.
  • Sairia muito valorizado;
    Um livro que traduz a triste realidade que se vivia por aquelas paragens.
  •  
  • Estes dramas agora contados passavam, na altura, de boca em boca e iam chegando ao conhecimento dos "checas".
  •  
  • Recordo que, dois anos depois, o episódio da água servia ainda de exemplo e era lembrado sempre que era necessário lá descer;
  • Um livro que vem esclarecer algumas dúvidas que me acompanhavam há longos anos relativamente às Companhias que nos antecederam em Nangololo e confirmar aquilo que eu sempre pensei e defendi sobre os motivos que determinaram o abandono dos chamados destacamentos de Miteda e de Muidumbe deixando apenas Nangololo, sob o comando de um capitão.
  •  
  • Tal aconteceu porque a situação se agravava de dia para dia e a partir de determinada altura tornou-se quase impossível continuar a fazer a chamada "guerra na picada".
  • As perdas humanas e de material ultrapassavam tudo aquilo que, mesmo para os "donos da guerra", sempre bem mais preocupados com o material, seria razoável e tolerável.
  • Em tempos eu escrevi algures que os militares continuaram em Nangololo apenas para "marcar presença" na zona, já que estrategicamente o local não teria grande interesse militar, mas o autor é mais exato e concordo com ele quando afirma, não recordo bem se com estas palavras, que a presença de militares naqueles locais servia para "entreter e manter ocupada a guerrilha" evitando que ela se estendesse para sul. Por outras palavras "carne para canhão".

  • Estive no local dois anos depois do autor do livro e durante 20 meses (julho 72/fevereiro 74).
  • O que mudou:
    Os reabastecimentos, enquanto foi possível, passaram a fazer-se por via aérea, abandonando-se as perigosas colunas (durante a nossa permanência apenas foram efetuadas duas entre Mueda e Nangololo, com os resultados que são conhecidos e não vou repetir aqui);
  • Por este motivo os bens alimentares eram escassos e por vezes faltavam.
  • Tempos houve em que chegou mesmo a esgotar a cerveja e outros em que esta teve de ser racionada;
    As picadas da zona, sem uso, foram absorvidas pela vegetação e praticamente desapareceram;
    A engenharia dotou o destacamento de um furo (90 m de profundidade, segundo constava) com bomba para retirar a água, deixando de ser necessário o abastecimento periódico na perigosa nascente, recorrendo-se a esta apenas nos casos de avaria, o que aconteceu por diversas vezes;
    Desapareceram do local as patentes superiores a capitão;
    Também nunca lá vi um médico e o padre capelão apareceu duas ou três vezes;
    O isolamento era total e sem Miteda e Muidumbe, passou a ser Mueda o destacamento mais próximo.
  • Mas a grande maioria do pessoal, presente em Nangololo, nunca lá foi;
  • As cercas de arame farpado que delimitavam o perímetro do destacamento deixaram de estar armadilhadas;
    Passaram a existir 2 geradores elétricos, funcionando um como reserva para os casos de avaria;
    Alguns pelotões construíram, de forma muito artesanal, as suas próprias casernas abrigo subterrâneas, recorrendo a grandes troncos de árvores e bidões de combustível;
  • Repetiu-se em 1973 o episódio da evacuação noturna, feita por um avião civil, nos mesmos moldes (desta vez sem o acidente do avião) e pelos mesmos motivos;
  • Passaram a fazer-se operações de vários dias a corta-mato na densa mata, algumas delas com os militares a serem largados no objetivo (ou perto dele) por helicópteros, sendo o regresso a Nangololo feito a pé.
  • Os reabastecimentos no mato, em regra, eram a cada 3 dias;
  • Mas a "guerrilha" depressa se adaptou às novas realidades e a partir de determinada altura também os meios aéreos começaram a sentir-se fortemente ameaçados e, consequentemente, o contacto com o exterior tornou-se ainda mais difícil;
  • Passaram a aparecer mais trilhos armadilhados;
  • A pista, na altura com cerca de 2,5 km, era picada (varrida) diariamente, por um pelotão, e mesmo assim foram lá detetadas, num só dia, pela minha Companhia (CCAV3561) e levantadas, sem consequências, mais de 30 minas, algumas delas anticarro (foi quase obrigatória a opção pelo levantamento para evitar a destruição da pista, dado que, ao tempo, ela constituía quase a única garantia de ligação com o exterior);
  • As flagelações com morteiros e canhões eram frequentes e no dia 4 de fevereiro de 1974, durante um ataque que se prolongou durante quase todo o dia, foi mesmo efetuado um disparo de 122;
  • Por essa altura surgiram mensagens relâmpago, provindas dos "altos comandos", informando que estaria a ser planeada e preparada por parte do IN uma tentativa de golpe de mão, envolvendo um elevado número de efetivos da guerrilha, o que obrigou a medidas excecionais de segurança.
  • Talvez devido ao facto do pessoal ter sido prevenido, gorando-se desta forma o efeito surpresa, tal não veio a concretizar-se.

    Voltando ao livro
    Li, gostei e aconselho a sua leitura.
    Parabéns e muito obrigado António Soares
     
  • Duilio Caleca Obrigado Abel Lima por transcreveres a verdade do que efetivamente se passou onde nós amargámos uma parte da nossa juventude.
    Só mesmo quem passou por elas.
     
  • Abel Lima Duilio Caleca - Bem reaparecido após as merecidas férias. Apenas comentei um livro, que considero excelente, cujo autor é um ex-camarada António Soares, membro do picadas, que não conheço pessoalmente e que esteve em Nangololo antes de nós. Vale a pena a sua leitura. Abraço.

domingo, 29 de novembro de 2015

VAI FAZER ESTE MÊS 44 ANOS, por Manuel Sousa

 
 
Cópia do texto de Manuel Sousa

17 de JULHO de 1970 – Morte e lágrimas no Planalto dos Macondes

I - O Planalto em 1970

A Operação Nó Górdio não estava a correr conforme os altos comandos tinham previsto.

Aquela que foi considerada a maior operação militar levada a cabo durante a guerra do ultramar, fez confluir para o Planalto dos Macondes (também conhecido como Planalto de Mueda), uma quantidade enorme de meios humanos e materiais, nunca antes vistos, com o objetivo de dar um golpe de misericórdia à Frelimo e assim pôr fim à guerra em Moçambique.

Foi tudo bem planeado e os militares corresponderam àquilo que lhes era exigido de forma heroica e destemida.
Mas, houve um pequeno lapso dos nossos estrategas: avisar o inimigo que íamos atacar em força.

Obviamente que demos tempo para que os militares da Frelimo se retirassem para locais mais seguros, levando consigo parte das populações que lhes serviam de apoio dando início a operações de guerrilha em locais até aí mais ou menos calmos.

Deixaram para trás as minas que enterravam nas picadas, onde sabiam que mais tarde as nossas tropas haveriam de passar além dos elementos da população gentia constituída por velhos que já os não podiam acompanhar nas marchas intermináveis pelo mato.

A nós militares, o alto comando mandou-nos construir palhotas e providenciou-se para que houvesse alimentos para os milhares de guerrilheiros e populações que se iam entregar ás nossas forças armadas, com medo de serem mortos ou capturados de forma a serem recebidos com a hospitalidade possível.

Em Muidumbe onde estavam sediados dois pelotões do Esquadrão de Cavalaria 1, os Pelotões nº1 e o 2 ao qual eu pertencia, estava previsto que se entregassem mil e tal elementos.

Entregaram-se zero!

E o “BOCAS”, um velho Dakota da Força aérea, continuava com um potente altifalante a sobrevoar o mato e a pedir aos guerrilheiros e civis que se entregassem ás nossas F.A.
Lançava panfletos divulgando as vantagens que havia se se pusessem do lado das Forças Portuguesas.

Mas os Macondes são um povo especial.
Sabem o que querem e, por bem, são leais até à morte.
Por mal, no seu território são invencíveis.

E o mal já as autoridades administrativas civis o tinham feito.
Mas isso é outra história.

O planalto é arborizado por uma vegetação rasteira, composta de densas lianas resistentíssimas, impenetrável e que raramente atinge dois metros de altura, que envolvem as árvores que delas se conseguem libertar, aproximando o seu folhedo do sol.
Sim porque no solo, são poucos os locais onde a claridade penetra.
Vista do ar, parece um mar verde-escuro, com umas raríssimas pequenas clareiras.

Nesse tufo para nós impenetrável, existem túneis cavados na vegetação por onde os Macondes se deslocam a pé, abaixados, protegidos do sol e da vista de intrusos, deixando para trás, em locais que só eles sabem as suas explosivas armadilhas que tantos estropiados nos causaram.

Claro que as nossas tropas, à custa de muito sangue derramado, lá foram aprendendo a deslocarem-se por esses túneis cavados na vegetação, improvisando duma forma extremamente simples os seus detetores de armadilhas.
Só mesmo o engenho desses soldados, inventaria um detetor constituído por uma cana e um cordel.

Mas, como os guerrilheiros e populações não se entregavam e as principais Bases inimigas foram encontradas abandonadas, era necessário incendiar a vegetação para lhes podermos “pôr a vista em cima”.

Mais uma vez a genialidade dos comandos manda largar pela Força Aérea bombas incendiárias “Napalm”, para incendiar esta vegetação que servia de abrigo aos nossos inimigos.
Mas as lianas nem sequer ardiam.

O tipo que inventou a Napalm nunca esteve no Planalto de Mueda e esqueceu-se de pôr no Manual de Instruções que esta bomba não servia para fazer arder aqueles arbustos Macondes.
Esqueceu-se também de avisar que por qualquer razão, ali, muitas delas não explodiam.
Ou por serem mal largadas ou porque a vegetação amortecia o embate….
Da mesma forma que nós capturávamos o material que os guerrilheiros abandonavam em fuga, eles aproveitavam e guardavam o que podiam do nosso.
Entre ele, bombas da aviação que não explodiam.

II – Nangololo – entregaram-se dois guerrilheiros.

Enquanto a Engenharia Militar tentava aumentar e alargar a pista de aviação, com os enormes Caterpillars D-12 abrindo mato nas lianas Macondes, com as lagartas a derrapar, os homens do Esquadrão e não só, faziam a proteção aos operadores das máquinas.
E, quando o Caterpillar já não tinha força para arrancar e partir as lianas, as motos serras ajudavam na tarefa.

Era muita gente na pista uns meio fardados, outros meio desfardados, negros, brancos, asfaltadores da engenharia, militares emboscados nos limites da pista, Panhards para cima e para baixo, homens a pé ou de Unimog, pista acima e pista abaixo.

O quartel do Batalhão de Nangololo era um luxo.
Estava num dos extremos da pista.
Tinha uma Igreja que servia de camarata para aquele pessoal todo e uma bateria de artilharia que substituía o relógio do campanário da Igreja a dar horas.
Durante a noite, de hora a hora, lá se disparavam uns obuses para a serra do Mapé, fazendo estremecer tudo e acordando toda a gente.
Toda a gente talvez não mas pelo menos aqueles que como eu, não estavam habituados aquele estranho modo de dar horas.

O aquartelamento até tinha uma porta de armas com uma cancela de pau, para não deixar entrar intrusos no recinto.
No outro extremo da mesma pista a cerca de 2 quilómetros, eram as instalações e comando do Esq., Cav. 1 que, incompatibilizado com o comando do Batalhão, era constituído por quatro tendas cercadas por uma corda, cerco interrompido pela entrada guardada por um garboso soldado também para impedir entradas de intrusos sem prévia autorização do capitão.

O gabinete do sargento amanuense era em cima de uma Mercedes de seis toneladas, onde se sentava sobre umas caixas de madeira e escrevia à máquina e tratava de toda a papelada com o esmero possível.

Um belo dia aproximam-se dois homens da sentinela do Batalhão de Nangololo e perguntam pelo Comandante.
Uma pergunta tão estranha num dia tão normal fez com que a sentinela lhes respondesse: “- Eh! Pá, o que é que vocês querem?”

“Queremo-nos entregar!”

Só depois é que a sentinela reparou que as armas dos dois não eram iguais à dele, mas sim Kalashnikovs.

Apontou-lhes a G3 assustado, eles entregaram as armas e lá chamou alguém para os acompanhar ao Comandante.

Eles, dois militares da Frelimo, aproveitaram a confusão que havia na pista de Nangololo, passaram pelas nossas seguranças e no meio dos nossos militares para se entregarem.
Se não se tivessem apresentado, teriam almoçado na cantina dos nossos soldados, dormido na camarata e podiam ter seguido viagem no dia seguinte.

Haviam casos anedóticos destes.
Já tinha acontecido um ano antes em Nova Guarda.
Estávamos sentados à porta de uma cantina a comer a ração de combate e aproximam-se de nós dois africanos, dirigem-se ao Alferes que estava sem os galões e dizem-lhe: vimo-nos entregar. Entregaram-nos as armas e levamo-los para Vila Cabral.
Como sabiam quem era o alferes se estava sem galões?

Mas, voltando a Nangololo.

A CCS fez uma tentativa de levantamento de rancho e, de castigo, foram mandados fazer um patrulhamento a pé no mato.

Após duas horas de caminho, foram emboscados.
As rajadas ouviram-se perfeitamente no Quartel e o capitão Faria Afonso que tinha a sua tenda de comando no extremo da pista de aviação de Nangololo, mete a Panhard a corta mato, conforme pôde, pois haviam umas clareiras próximas do Quartel onde tinha sido uma antiga machamba. Cruza-se com os nossos militares que já vinham de regresso com um morto e um ferido ás costas.


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Duilio Caleca O Capitão Faria Afonso recebeu uma Cruz de Guerra de 1ª classe por este “ato de bravura.”

Os outros que com ele morreram, apenas foram vítimas das loucuras dos homens.

Manuel Serafim de Matos Sousa
Ex-furriel Milº de cavalaria

Nota final:

Ex-camarada Manuel Pereira Martins no seu livro “Memórias de um Tempo Perdido” também descreve este acontecimento de 17-7-1970.
São factos que ambos acompanhamos e que não podem ser plagiados.
Apenas descritos com mais um ou outro pormenor.


Duilio Caleca E esses que foram os "mandantes" desse fiasco alguma vez foram a Conselho de Guerra ??
Antes pelo contrário foram considerados os "maiores", mas em vez de medalhas, levaram na "consciência", centenas de jovens que acreditaram nas suas ordens.